Por quê eu 'stou vivo? Por quê? Eu olho pra trás, meu caminho, aquilo que fiz e deixei de fazer, a cadência vital, e tudo parece tão cheio de espaços vazios. Me parece que o conjunto daquilo que sou até aqui tem muito, muito vazio. É estranho, mas isso tem um peso enorme - e parece que em algum momento, de uns 03 anos pra cá, desde 2018, esqueci desse peso, desse vazio, e paguei/'stou pagando muito caro por isso. Eu lembro algo como em 2005/2006 (17 pra 18 anos), antes que tudo ficasse horrível, e estava ganhando bem pros meus parâmetros da época; sobrava dinheiro, embora não ajudasse direito meu pai com as contas de casa. Eu lembro de um dia sair do trabalho e ir comer num mercado de bairro, que tinha um espaço de lanchonete bonito. Eu estava com dinheiro de sobra, comprei algo gostoso, e pra variar, peguei uma mesa que tinha duas cadeiras; eu sempre fiz isso, especialmente nesses tempos, pois achava que magicamente alguém surgiria ali. A garota dos sonhos ou a por quem era apaixonado na época. Alguns anos depois, apareceu uma pessoa em minha vida, mas fui um namorado ruim. Aí passei um tempo sozinho, sofrendo; me apaixonei, não fui correspondido, namorei não me entreguei, me apaixonei e não fui correspondido de novo, fiquei sozinho mais uma vez. Aí decidi mudar o paradigma e me preencher de pessoas. Quando a A. apareceu em minha vida, não fui capaz de dar o valor certo; eu insisti, pois vi que ali tinha algo diferente, mas continuei inconsistente, como a forma que conduzia minhas paixões: fica aqui, ali, enche o ego, vai, talvez volta, fica, migra. Eu deveria ter permanecido sozinho. Foi vazio tudo isso; machuquei uma terceira, e a A., não agi bem com ela, continuei, mesmo ao seu lado, erguido sobre o mesmo paradigma de antes. O que que eu fiz? ... Fazem meses que ela foi. Isso dói. Como eu pude tratar ela abaixo da dedicação que merecia? Se fosse ela, dividindo um lanche comigo em 2006, eu estaria extremamente feliz, e com efeito, nos quase dois anos ao lado dela, eu estava feliz. Eu adoro sua presença, isso faz uma falta atroz. Caralho, como eu gosto desse ser humano!; Eu ouço sua voz, eu a vejo sentada no fim de tarde, esperando o café. Eu esqueci como queria alguém especial do meu lado, não aprendi com a merda que fiz com minha Companheira primeva, a D. ? Aquela dor não foi suficiente pra que eu me tocasse?!
Agora 'stou sozinho de novo. Mas não tem o Rick em casa, nem minha irmã. Tenho meus gatinhos, e até isso dói, porque lembro dela brincando com eles... Eu adorei ver a cena dela chamando os filhotes e eles seguindo os pezinhos dela. Eu vejo e revejo esse filme o tempo todo nas minhas retinas. O que que eu fiz? O que que eu fiz?
Minha vida é muito pequena: eu sei que isso tudo passa num piscar de olhos: ontem eu estava abraçado com seu corpo macio; anteontem eu era um "garanhão" no pub e dava risada com isso; faz uma semana, eu comia bolo com a D., e ela me dava uma doce censura por tomar sorvete todos os dias; faz um mês, eu era um aluno promissor apesar das faltas na escola, e diziam que poderia ser um grande pesquisador, minha mãe estava viva e eu cantava na Igreja; fazem dois meses, estava na 4ª série, tinha a professora Soledad, e meu caderno tinha nota 10 por ser decorado e bonito, cheio de anotações; eu lembro de ser lento na 1ª série, de ter levado um susto no Pré, quando cantaram meu nome no "... Roubou pão na casa do João"; e antes disso a chácara e o córrego, a casa de ferramentas na qual achava que tinham espíritos; o corte na minha mão, no qual vi uma luz sair da ferida ao invés de sangue; o colo de minha mãe, o apartamento semi-iluminado; o silêncio, o escuro. Um escuro enorme, um negrume infinito. É isso minha vida? Eu não gósto desse gôsto; se é um alimento, isso me dá um pouco de ânsia. Como eu reparo as coisas? Que preço eu pago pra que as coisas fiquem bem, pra que eu cicatrize as coisas, pra que me repare com ela?
A., minha querida, eu sei que falhei pra caralho com você; não quero ser um embuste, até porque eu fui um; nem te enganar, nem me enganar. Já fiz isso também, e não me orgulho. Eu tenho um monte de defeitos, entre eles, a inconsistência. Eu não sou melhor que ninguém, mas também não sou pior: não sou melhor que os que vieram antes de mim em sua vida, nem depois, mas eu, sou único; só eu sou como eu, e apesar dos pecados cometidos, eu gosto de você... Eu adoro sua voz, sua pele, adoro te filmar tocando; o jeito suave como pede algumas coisas... Eu sou lento, mas eu aprendo, eu aprendi minha lição. Minha existência, mesmo que eu viva 100 anos, é curta; a mesma escuridão de antes, antes de qualquer memória consolidada, é a que será minha casa, quando meus dias na Terra acabarem. Eu conheci homens que amaram muito alguém e não souberam cuidar, e estes, TODOS, carregam ou carregaram em vida esses amores até o fim, mesmo casando com outras. Meu amor, A., eu não posso fazer isso. Eu não sou melhor nem pior que eles, mas eu não posso fazer isso. Eu não posso voltar a ser um enganador. Eu não posso carregar você dormente em meu coração, enquanto tento "seguir em frente". Não existe frente meu bem, nem trás, nem lado. Até em minha terapia, você, que presenciou, viu um caminho em minha existência, que se dividia em duas opções. Eu não sou melhor ou pior que os homens que citei, mas não posso fazer como eles. Se não for pra compartilhar meus dias com você, deixar que você me modifique um pouco, sabe?, então devo encerrar meus dias só. Cada abraço apertado seu, não era nem quente demais, nem frio; sua boca, macia, seu temperamento severo mas algo dócil também. Eu sei que não dei valor, eu sei que agi mal, mas eu tinha que aprender isso, pois eu estava num automático. Meu amor, me perdoe. Me permita estar ao seu lado mais uma vez. O único Caminho que quero trilhar, é um no qual você esteja presente. Não quero passar minha vida sem estar ao seu lado. Eu traí a mim mesmo, e por conseguinte você; meus dias são curtos, mas se puder, a cada dia, ver seus olhos claros e ouvir uma bronca sua, com uma alegria secreta, estarei satisfeito, mesmo que seja ceifado em breve. Eu sinto sua falta A. . Sinto isso todos os dias.
Eu desejo que esse amor aconteça, e que dessa vez, eu esteja pronto pra ele; eu desejo que você conheça, na nossa próxima vez, o meu melhor lado: tudo aquilo de bom e luminoso, que não te apresentei direito em nosso primeiro encontro; que nossas mãos e corações sejam entrelaçados e que minha palavra seja verdadeira e firme como a de um homem que venceu a própria morte; em nosso próximo amor, seremos os melhores amigos um do outro, faremos planos e os realizaremos; tocaremos juntos alguma coisa dos anos '90 e/ou um Death, e daremos risadas gostosas com isso. Eu desejo que meu coração saia da ilusão e das trevas - no nosso próximo relacionamento, começaremos sob bases firmes e bonitas, porque não precisarei esconder nada: você conheceu o meu pior - ao ver o melhor, você terá a certeza de que se há alguém nessa Terra que quer passar o resto dos dias contigo, esse alguém sou eu A. . Eu lembro da história que você me contou sobre o Marvin Gaye; se engana se acha que morrerei igual ele, sem me "reformar", e sem o amor maior. Eu só parto dessa Terra, quando me remir com você, e num abraço bem apertado, demonstrar o quanto gosto de dividir esses dias contigo.